quarta-feira, setembro 26, 2007

Sopa de pedra



Estória (ou lenda), dedico à laurita por me vir à memória cada vez que refere o sonho de ter a tal "casinha simples" que terá muitos quartos para todos os amigos, chorrasqueira, um lindo jardim, muitas florinhas, etc. etc. etc. eheheh


Laurita, não precisas usar a estratégia do "mendido" ... as florinhas do jardim ficam por minha conta, tá??? eheheh

Contava a minha mãe que há muito, muito tempo, era a mãe dela criança, no tempo em que havia verdadeira pobreza, um mendigo que passava junto duma farta propriedade, vendo os donos trabalhando na lavoura, aproximou-se e exibindo um calhau, queixou-se de fraqueza e pediu à dona da casa se lhe emprestava uma panela com um pouco de água e lhe deixava usar a sua cozinha para fazer uma sopinha de pedra!

A Senhora, incrédula mas curiosa, acedeu ao pedido fornecer-lhe o utensílio.

- Sopa de pedra? Mas isso é lá possível? Nunca tal coisa ouvi, disse a dona de casa.
- Pode crer que fica daqui! Disse-lhe o mendigo, ao mesmo tempo que apertava uma das suas orelhas (a direita, acho eu!).
- Pois sempre quero ver isso, voltou a senhora, sentando-se frente ao lume aguardando o resultado.
Alguns minutos depois, o esperto mendigo, abriu a panela, provou e disse:
- Já ferve! A pedra vai demorar um pouco a amolecer. Sabe o que a tornava ainda melhor? Uma batatinha e 1 cebolita, vinham mesmo a calhar!
- Oh homem, que não seja por isso. Tome lá 2 batatas e 1 cebola.
Respondeu a senhora.
Passaram mais alguns minutos e 2 dedos de conversa e o viajante matreiro disse de novo:
- Bem, no tempo da cenoura, costumo meter-lhe 2 pequenitas e 2 folhitas de verdura ... aí é que ela fica mesmo apetitosa!


Imediatamente a senhora gritou para o interior da habitação:
- Maria, vai ao quintal e colhe umas folhas de couve galega e 2 cenouras. Não vai ser por falta de legumes que a sua sopa de pedra não fica à maneira.


- O matreiro pensava para consigo que a coisa estava a correr como previsto e ia-se aventurando cava vez mais:
- Lá paras as bandas de onde eu venho, também costumamos juntar-lhe uns feijõezitos, sabe??? Hummm isso é que lhe dava um paladra ... E logo a dona da casa se apressou a estender-lhe uma malga cheia que tinham sobrado da feijoada de vésvera.

Este diálogo durou o tempo suficiente para que lhe fossem fornecidos todos os ingredientes necessários, sem esquecer o azeite, o sal e até um pouco de fumeiro e assim completou o pitéu.

Consta que ao fim do dia foi visto a dormir à sombra dum chaparro, a alguma distância da quinta, dormitando ao lado duma marmita com o resto da sopa e ainda um saco cheio de moedas que recebera da senhora como gratificação por ter partilhado com ela tão preciosa "receita" eheheh

Moral da estória:
Podem extrair-se várias ... deixo à imaginação de cada um

12 comentários:

Teté disse...

Ah, essa já ouvi em miúda...

A que me ficou cá mais no ouvido, foi a "do tempo em que havia pobreza". Hoje não há? Há sim, gente sem tecto nem chão, mas há pior ainda, quem vá vasculhar os caixotes do lixo do supermercado e dos restaurantes, para ter o que comer. Eu nem acreditava, se nunca tivesse visto...

Mas também é certo que somos quase todos uns privilegiados, a queixar-nos de "barriga cheia"...

Jinhos, nina!

Pascoalita disse...

Teté,

Não acho. Pobreza daquela que ouvi falar qdo era miúda, hoje não há!!!

O que há é mta desgradação humana, muita imoralidade, muita outra coisa.
Nesse tempo, vasculhar um caixote de lixo era tarefa inglória, pois duvido que ali se encontrasse algo comestível, o pão comia-se até à última côdea.
Tb já assisti a isso que dizes, mas essa miséria só acontece nas grandes cidades, no meio rural não me parece.

A minha mãe usava uma lenga-lenga para definir a miséria antiga que rezava assim ...

"graças a Deus que já cozemos
7 fizemos, 14 devemos
e nem um bocadinho de bola comemos"
Jinho tb a ti :)*

Laura disse...

Nina, conheço essa histórinha de pequenina, e lia eu num livrinho que o meu pai me comprava, ele adorava comprar-me historias pois eu gostava de ler e como ja estava surda, mais me ajudava a manter a fala e não esquecer...essa acheia linda e disse para mim; olha o finório do mendigo, comeu uma rica sopa...

Bem, bem, pode ser de eu querer dar de comer aos meus amigos, Já te disse que eles não vão viver para lá, vão lá passar um dia dois dias e regressam aos eu lar, até porque nunca os irei juntar todos, alguns até são de feitios bem adversos, as mulheres de uns nem se dão com outras e assim serão menos de cada vez ahhh e claro que se puder eu faço a sopa e sem pedra, mas se dizem que dá saber...pedra grande no pote pa baixo... Claro que eles se eu não puder, cada um leva algo para se enfiar no pote..até podemos fazer a comida do jotinha, em vez de enterrar na terra, enterra-se no pote bons nacos de carne de porco de vitela chouriças salpicões morcelas e farinheiras, couves muitas couves, eu planto-as e o adriano ajuda...
Só quero é a companhia e mai nadica.. Gostei que me lembrasses e da histórinha querida dos meus tempos felizes...

Anónimo disse...

Velha história essa do frade manhoso, mas sempre actual com frade ou sem frade. Depois disto vou a correr a Almeirim ao "Toucinho" comer uma bela duma sopa de pedra

Pascoalita disse...

eheheheheh

Eu entendi tudo isso, laurita! A semelhança está no modo como descreves tudo o que queres que a "casita modesta" terá de ter para te proporcionar bem estar a ti e a quem te visitar.

Mas ouve lá, ou melhor, le-me eheheh então não arranjas lá na casita um cantinho para a tua pascoalita passar uns diazitos??? Vai ser só de visita??? Nem que seja na casota do shakinha eheheheh

Pascoalita disse...

Laurita,

Na minha meninice os livros de estórias limitavam-se aos livros escolares e ao catecismo.

A minha mãe é que nos contava cenas do quotidiano que retive e é engraçado como hoje continuam a fazer sentido.

Um dia destes contarei uma outra

"irmão rico e irmão pobre" eheheheh

Laura disse...

Mana, tou tão cheia da minha sopinha sem batata que olhando para essa, me parece um caldo demasiado verde, de certezinha que a sopa de pedra era melhor...

Pascoalita disse...

Tens toda a razão, laurita. Pensei exactamente o mesmo, mas foi o que "apanhei na rede" eheheh
Não vais querer que faça a sopa de pedra para lhe tirar a foto, vou vais? eheheh

Laura disse...

Não mana, longe de mim mandar-te fazer sopa agora...

Fui à cidade, aperaltei-me toda e andor...
Fui para ver os mimos, mas vejo-os amanhã ao fim da tarde com a sãozita a sónia a glorinha etc, vai ser festarola para o grupo...
Fui ao João da farmácia,e ste joão é um amor sem fim. Um rapaz ás direitas e um excelente marido e pai..Temos poucos aqui por Braga ehhhhhhhhhhhh...
Doem-me os pés, andei desde as 16 até agora, para cá e lá, mas arejei a mente...
estavam a tocar acordeão e tinham milho no chão, e as pessoas tiravam as espigas que queriam, amas aquilo ali lembrou-me ao passado à terra da minha avó e ao cheiro dos campos...

Pascoalita disse...

Gui,

Depois de ler o seu comentário, pesquisei sobre o assunto e afinal descobri que fui enganada!

A minha mãe era uma católica mto crente (ferrenha mesmo) e omitiu-nos sempre que o tal "mendigo ou viajante" era afinal um monge ou frade!

Agora entendo a estória dele ter aceite tb o tal saco de moedas. Tá visto que este se destinava à sua confraria Hummm têm cá uma lata! eheheh
Obrigada. Até substituí as imagens

Laurita, já dei cor à sopinha. Espero que aquele verde todo não te tenha deixado demasiado enjoada.
Pertinho do meu trabalho, num Snak Bar de nome DUQUE, onde eu, a nina africana e algumas colegas vamos de vez em qdo almoçar, há um dia por semana que fazem "sopa de pedra" e o restaurante está sempre cheio. (eu não aprecio)
jinhos

Ahlka disse...

Temos todos uma história herdada dos nossos pais :)
Eu relembro muita vez a dos feijões pequenos com 'cebolinha picada'...
;)*

Anónimo disse...

Olá Pascoalita.
Ainda arranjas um prato de sopita da pedra!
Eu gosto muito dessa sopa e quando vou a Almeirim visitar os meus cunhados vamos á sopa, naquela zona tem uma grande tradição e todos os restaurantes a fazem. Beijocas