sábado, abril 10, 2010

O Folar da Avó Ana


Um pequeno texto, humilde contributo com que participei na Blogagem Colectiva do mês de Abril, na Aldeia da Minha Vida, desta vez alusivo ao tema "A Páscoa na minha Aldeia". Os textos participantes podem ser lidos, comentados e votados aqui.

(Imagem da Internet)

Da Páscoa da minha infância, na aldeia, de onde saí muito cedo, guardo apenas vagas recordações. Resumem-se a lembranças que envolvem actos religiosos e em que as crianças aproveitavam a pausa escolar para correr pelos campos e desfrutar dos primeiros sinais da Primavera.

Foi já na capital, onde vivi a minha adolescência, que me familiarizei com alguns costumes usuais da quadra e que até ali pouco me diziam ou simplesmente desconhecia, como seja por exemplo a tradição da oferta das amêndoas aos afilhados.

No 2º andar do prédio onde eu habitava, morava uma senhora alentejana, de Ferreira do Alentejo, com duas netas mais novas do que eu, que ao primeiro contacto, me adoptaram e com quem passei excelentes momentos.

A avó Ana era daquelas senhoras, tipicamente alentejanas, que tinha sempre a porta aberta e mais um lugar à mesa e a quem todos recorriam e nos fazia sentir parte da família.

Ainda hoje recordo, com emoção, a primeira vez que a vi colocar sobre a enorme mesa que mantinha sempre aberta na marquise, um tabuleiro contendo 3 douradinhos folares, cada um com seu ovo “semi-escondido”, acabadinhos de sair do forno, um dos quais se destinava à neta emprestada … EU!

O ritual repetiu-se durante alguns anos, tornando-se tão banal que só muito tempo depois, quando a “avó Ana” já não estava entre nós, nos apercebemos, com tristeza, que nenhuma das netas, incluindo eu, aprendera a fazer a receita.