Já lá vão muitos anos ... cerca de 25!
Sempre tive uma certa vocação para praticar marotices e geralmente eram bem aceites, dado que me limitava a brincadeiras sem prejuízo para ninguém. Mas houve pelo menos uma vez em que me excedi e hoje lastimo que só tarde demais me tenha apercebido.
No departamento onde sempre trabalhei, havia um gabinete onde na época (1978) trabalhavam apenas 2 técnicas superiores. Uma bióloga, desempenhando funções de chefia e a outra preparadora técnica. Eram amigas desde o tempo da faculdade e davam-se muito bem, aliás ao contrário de hoje, reinava um ambiente saudável em todo o departamento.
Trabalhando eu no Sector administrativo, era frequente deslocar-me aos vários gabinetes para tratar de assuntos de trabalho, encontrando-os por vezes vazios, facto que neste era sistemático, o que me irritava solenemente.
À entrada do gabinete havia uma estante e numa das prateleiras, entre frascos e molduras, destacava-se um solitário contendo uma bonita rosa de pétalas em seda num tom amarelo dourado, pertença da chefe de divisão.

Sempre que abria a porta e não via ninguém, sentia um diabinho sopravar-me ao ouvido e num ímpeto incontrolável as sedosas pétalas da flor eram viradas ao contrário (invertidas), conferindo-lhe um aspecto de "rosa murcha". Dava meia meia volta e regressava ao meu lugar, voltando mais tarde.
Cheguei a repetir o gesto várias vezes ao dia, durante meses a fio. Lembro-me que estranhava que ela rapidamente recuperasse a sua forma normal, mas nunca me apercebi de nenhum comentário, nem fui questionada sobre o assunto, pelo que não perdia tempo a pensar no caso. Aquilo acabou por se tornar quase instintivo, maquinal ... abre porta, ninguém na sala, inverte pétalas, fecha porta, regressa ao pt, assunto esquecido eheheh
Alguns anos depois a Drª Fátima adoeceu gravemente e em menos de um ano faleceu, causando grande consternação a todos nós, pois era uma colega muito divertida e de quem facilmente se gostava.
Foi num momento em que a recordávamos na sala de chá que partilhávamos, que soube que durante todo aquele tempo, a Chefe acusara a colega e amiga de lhe fazer aquela crueldade à rosa, chegando mesmo a ficar de "candeias às avessas" durante dias, com a chefe convencida de que só podia ser ela uma vez que mais ninguém ali trabalhava e a acusada, negando sentida.
Confesso que me senti culpada! Não achei muita graça que a minha colega Alex tivesse tido conhecimento das consecutivas zangas e nunca tivesse comentado o facto comigo, já que sempre suspeitou que era eu a autora da brincadeira.
Enfim, como já era um pouco tarde para me redimir junto da injustamente acusada, achei que de nada serviria denunciar-me confessando o "crime à dona da rosa.
Mas ainda hoje, quando me lembro, sinto um peso na consciência e aponto-me o dedo:
- Pascoalita, estás em pecado mortal!!! Reza já um Pai Nosso pela alma da Drª Fátima.