Este texto constitui o meu modesto contributo na Blogagem Colectiva da Aldeia da Minha Vida cujo tema do mês de Janeiro é "Vamos Ca/ontar as Janeiras e Comer Bolo-Rei".
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Associo a prática de cantar as janeiras ou "janeirinhas", como se dizia na minha aldeia beirã, a um passado longínquo já quase esfumado na memória, uma vez que em Lisboa onde cheguei, ainda menina, no fim dos anos 60, e morei desde então, não se usava a tradição.
No meio rural, longe da civilização, onde os brinquedos eram raros, o entretenimento passava muito pela imaginação e criatividade das crianças.
Motivava-nos bem mais o prazer de competição entre grupos, ou o simples gozo de ver as críticas e reacções negativas de alguns habitantes do que esperança de sermos recompensados com uma côdea de pão ou um biscoito rijo.
Apesar do frio, saíamos de casa, enrolados no grosso cachecol de lã tricotado pela nossa mãe, mãos aconchegadas nas luvas e gorro enfiado na cabeça ficando apenas o nariz de fora, e calcorreávamos as ruas da aldeia nas frias manhãs de Janeiro, no dia 1 de Janeiro e no dia de Reis, cantarolando os tradicionais versos que iam passando de geração em geração:
Ainda agora aqui cheguei
Já pus o pé na escada
Já o meu coração disse
Aqui mora gente honrada
Levante-se lá Senhora
Do seu banco de cortiça
Venha-nos dar as janeiras
Ou morcela, ou chouriça
Pastores, pastores
Venham todos a Belém
Adorar o Deus menino
Que Nossa Senhora tem
Associo a prática de cantar as janeiras ou "janeirinhas", como se dizia na minha aldeia beirã, a um passado longínquo já quase esfumado na memória, uma vez que em Lisboa onde cheguei, ainda menina, no fim dos anos 60, e morei desde então, não se usava a tradição.
No meio rural, longe da civilização, onde os brinquedos eram raros, o entretenimento passava muito pela imaginação e criatividade das crianças.
Motivava-nos bem mais o prazer de competição entre grupos, ou o simples gozo de ver as críticas e reacções negativas de alguns habitantes do que esperança de sermos recompensados com uma côdea de pão ou um biscoito rijo.
Apesar do frio, saíamos de casa, enrolados no grosso cachecol de lã tricotado pela nossa mãe, mãos aconchegadas nas luvas e gorro enfiado na cabeça ficando apenas o nariz de fora, e calcorreávamos as ruas da aldeia nas frias manhãs de Janeiro, no dia 1 de Janeiro e no dia de Reis, cantarolando os tradicionais versos que iam passando de geração em geração:
Ainda agora aqui cheguei
Já pus o pé na escada
Já o meu coração disse
Aqui mora gente honrada
Levante-se lá Senhora
Do seu banco de cortiça
Venha-nos dar as janeiras
Ou morcela, ou chouriça
Pastores, pastores
Venham todos a Belém
Adorar o Deus menino
Que Nossa Senhora tem
(imagem da internet)
12 comentários:
Já era adulta quando pela primeira vez assisti às Janeiras, isto é, vi um grupo defronte da casa de um vizinho que cantava as Janeiras. Assim que me viram entrar vieram cantar à minha porta, mas nem a abri, afinal, além de estar sozinha, nada tinha para lhes dar, a não ser leite iogurtes e tostas!
Um beijinho.
Olá Pascoalita!
Bom ano novo,
Então onde anda a sacola, que servia para transportar a farinha do moinho para o fabrico da broa. aquela a que no dia de Reis servia para levar as costas e ir fazer o pedido das janeiras. Há já não se lembrava. Mas eu sim ainda me lembro de ás vezes ter de limpar as oferendas cheias dos restos da farinha que se encontrava na sacola. bom texto, bem lindo e original.
Beijo
Acácio
Pois eu nunca vi, as cantigas de "Janeiras".
No meu sitio não se usa.
Pelo Carnaval, será coisa parecida na 4ª feira de cinzas.
Biquinhos
Ai que saudades me fizeste das Janeiras ou Reizadas de outros tempos!
Por aqui, já nada se faz, mas em Tomar, à poucos anos, ainda as ouvi.
Beijinho
Maria
Eu nunca vi coisa do tipo, mas na cidade onde minha esposa nasceu eles tinham alguma coisa pareceida no dia 1º de janeiro, parece que as crianças iam de casa em casa e os adultos lhe ofereciam moedas.
Um abraço moça.
Olá, Milu :)*
Sabes que já foi há tanto tempo que já nem lembrava? É engraçado as coisas que as meninas Susana e Lena da Aldeia da Minha Vida me têm feito recordar eheh
Desculpa, tenho imensa vontade de fazer uma visita ao teu cantinho (adoro ler-te) mas como não pode ser de fujida, dado ser leitura interessante e para ser lida com tempo, tenho-me desleixado um bocado.
Prometo passar por lá em breve. Aliás, faz-me sempre bem ler os belíssimos textos e descobrir as coisas que temos em comum.
Jinho
Obrigada, Acácio Moreira!
Um Bom Ano também para ti.
Pois não faço ideia onde larguei a casola ... já foi há tanto tempo eheheh
O que mais recordo desse tempo é de cantarolar sob a janela do meu avô paterno, que pelo facto de ser o "matador da aldeia" tinha sempre muito fumeiro. Mas ele era tão forreta que nem deixava a minha avó abrir a janela eheheh
bjs
Zé do cão,
Cada terra com seu uso, cada roca com seu fuso, né?
Decerto havia outros costumes na tua zona de que nunca ouvi falar.
Conta! conta! conta!
jinhos
Olá, Maria
Confesso que não sinto a menor saudade desse tempo. Mas apesar disso, estas lembranças fazem-me sorrir.
jinho
Olá, Amigo Alves
É engraçado recordarmos brincadeiras e tradições de antigamente, sobretudo porque já quase nada disto se usa hoje.
jinho
ehhh que giros os versos, e o tempo as recordações...beijinhos a ti pascoalita e para o ano vou buscar-te e vamos cantar por ai fora, a ver se não nos dão com a vassoura na cabeça...laura
Também só conheço esse cantar das Janeiras de livros ou contos... As pirosas das Janeiras embirraram com os lisboetas e nunca cá se ouviu o seu canto!
Resta-nos continuar a ler em cantos alheios... :)))
Jinhos!
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