Enquanto desempenhei a minha actividade profissional, acumulada com as funções de esposa, mãe e dona de casa, lamentei sempre a falta de tempo que de tão exíguo nem me permita gastar as solas dos sapatos no calçadão da capital! Fui acumulando desejo atrás de desejo, cuja realização era sistematicamente remetida para o futuro, para o dia em a almejada reforma me haveria de devolver a disponibilidade!!! Planos eram mais que muitos e esse dia chegou recentemente.
Após alguns dias de descanso na casa de campo, residência permanente há já vários anos, chegou o tão ansiado dia de voltar à cidade, agora na qualidade de "aposentada". Durante a viagem, fui planeando, mentalmente, o meu dia:
- Pelas 10h tomaria café com a ex-colega, a nina "africana", aproveitando para me libertar do saco das nabiças fresquinhas, apanhadas de manhãzinha pelo meu hortelão; o outro saco, igualmente volumoso, também mudaria de mãos um pouco mais tarde, quando o filhote se encontrasse comigo, como estava combinado.
Uma curta visita à minha amiga Inês, fazia igualmente parte dos planos, almoçaria uma "chandocha "no "Molha o bico", desceria a pé até à baixa, a fim de trocar o presente de Natal que o meu caçula rejeitara, seguir-se-ia uma passeata até à Sé, uma ideia que me ocorre há muito, tendo inclusive incluído a máquina fotográfica na mala e decerto ainda sobraria tempo para entrar numa loja, imaginando-me já de posse de sacos leves e coloridos, bem mais fáceis de transportar, sobretudo se contêm "miminhos" para nós" eheheheh. Por fim, apanharia o Bus que me levaria a Miraflores, onde o meu hortelão ficara de me esperar, para uma consulta conjunta no instituto de oftalmologia (tudo muito bem calculado eheheh)
Porém, os planos saíram furados e acabei por passar um dia péssimo, maldizendo a capital e chegando mesmo a jurar tão depressa não voltar eheheh
A primeira parte do plano correu como previsto. Depois da "chandocha" engolida à pressa, mudei de tasco e aí bebi um café na companhia da nina Africana, libertei-me de um saco, mas tinha-me esquecido completamente que combinara recolher um outro, que continha os meus últimos haveres deixados na chafarica, ficando assim na posse de 2 sacos de novo! Não fosse esse facto e rejubilaria ao ser informada do cancelamento do meu encontro com a Inês, o que me deixaria mais tempo livre para a passeata.
13:00 horas:
- "Mãe, não posso ir ter contigo ... deixa lá, não troques o cachecol" !!!
O SMS funcionou como uma dose dupla de um poderoso sedativo! Que fazer agora? Sentava-me num snak ou restaurante? Seria boa ideia, se não estivesse sem fome e àquela hora não estivessem todos cheios! Um banco de jardim seria boa ideia noutra altura do ano, mas o tom cinzento-escuro e as núvens negras que pairavam sobre a minha cabeça, depressa me desencorajaram. Que faria até às 16 horas?
Em passo lento desci a Av. Duque de Loulé, enquanto me questionava se seria sensato caminhar nas ruas da baixa de Lisboa, carregada com aqueles 2 gordos sacos. No quiosque do Marquês de Pombal comprei uma revista e quando dei por mim estava sentada na paragem da Rua Joaquim António de Aguiar, onde permaneci triste, frustrada, desiludida e gelada até aos ossos quase 3 horas, até que achei ser oportuno apanhar o Bus que me levaria a Mira-Flores.
E foi assim, inesquecível e fantástico, o 1º dia de uma aposentada na cidade eheheh